Sidónio Freitas

Da Sheraton para o Grupo Pestana


O turismo não é um sector que o sensibilize na juventude. O sonho de sempre está mais para cima. No ar, no mundo dos aviões. Quer ser piloto, em parte, por ter um irmão na Força Aérea.
Além disso, as línguas estrangeiras não o cativam. Daí fugir a estas cadeiras na escola.
Estuda no Colégio do Infante, no Funchal. E, durante o período escolar, faz testes psicotécnicos. Testes que indicam não ser a aviação a profissão mais certa para Sidónio Freitas.

por: Paulo Camacho

Numa situação de alguma indecisão, adia a entrega dos papéis para a entrada na Força Aérea. Até que, quando decide, já é tarde. No fundo, é quase um alívio.
Com o 11.º ano completo, não sabe que passos dar. Os pais querem continuar a apoiar na formação. Por isso, surge a ideia de continuar a estudar e seguir para a universidade.

O despertar

Um dia, está no Apolo, com amigos. Entre eles, está Fernando, responsável pelos bares do grupo hoteleiro Dorisol.
A dado momento, fica a saber que procuram um barman. Da sua parte tem sinceridade de dizer que não percebe nada da área. Mas a Dorisol quer alguém para aprender no ofício.
Sendo assim, Sidónio Freitas entende que não tem nada a perder. Considera boa a ideia. Lá vai à entrevista. Fala com António Trindade. Considera que o hoteleiro tem um papel preponderante no seu percurso. Diz que, na realidade, não tem experiência, mas reconhece um potencial. Por isso, decide apostar em Sidónio Freitas.
Alguns dias depois começa a trabalhar. E surgem os primeiros copos partidos. E um corte.
Durante o seu percurso tem, igualmente, um papel preponderante a mãe de António Trindade, belga. Simpatiza e fala muito com Sidónio Freitas.
O incentivo
Diz-lhe que todos gostam dele no grupo, mas incentiva-o a ir mais além.
Sidónio Freitas convive com muito estrangeiros. Sobretudo, as turistas. Uma das que conhece, também belga, é hoje sua esposa.
Desde a primeira hora que a conhece sente algo de novo no ar. A futura esposa passa a vir com mais frequência à Madeira. E numa das deslocações refere que em Bruxelas há uma escola que dá cursos de gestão hoteleira.
Estamos no início de 1978. Faz as malas e vai de férias à capital belga. Desloca-se à escola para tratar da entrada.
Antes disso, tem um contacto com o frio.
Consegue entrar e deixa a Madeira. Já é subchefe de bar.

Curso na Bélgica

Antes, porém, cumpre o serviço militar obrigatório em Portugal durante 18 me-
ses, em Santa Margarida, onde é polícia militar. Durante este período trabalha numa unidade hoteleira no continente.
Em Bruxelas frequenta a escola CRA durante três anos com alunos de todas as partes do Mundo. Um dos grandes amigos é libanês e trabalha actualmente no Hyatt, nos Estados Unidos da América.
Sidónio Freitas sai da Madeira com o objectivo de tirar o curso e regressar ao Funchal para trabalhar no Sheraton.
Como tem em vista trabalhar na cadeia hoteleira simbolizada pelo “S”, pede e consegue estagiar para a Sheraton, no centro de Bruxelas. Quando termina o curso, os quadros superiores do cinco estrelas pedem que fique no hotel. O interesse é recíproco.
Entretanto casa. Nasce um filho em Bruxelas.
Nestes anos, pouco fala português. Só o pratica com o madeirense António Gonçalves que, na altura, trabalha na Melia, relativamente perto.

As duas decisões

A dado momento, começa a sentir a necessidade de tomar nova decisão. Ficar na Bélgica ou regressar à Madeira. Tem a sensação de que não é belga e também começa a não ser madeirense. As duas hipóteses estão em cima da mesa.
Durante a sua passagem na Sheraton reconhece ter aprendido muito.
Ao fim de cinco anos é director de alojamentos.
Sidónio Freitas tem o condão de ter sido o primeiro a ser contratado para o Bruxelles Sheraton sem falar flamengo, uma das línguas do país.
A sua valia é mais forte e fá-lo ultrapassar esse obstáculo.
Gabão à vista
A dado momento, um director que trabalha no hotel, italiano, simpatiza consigo. Vai abrir um hotel Sheraton no Gabão e quer levar Sidónio Freitas. As condições oferecidas são excelentes. Considera a opção boa.
O colega de profissão parte. Deixa de ter contacto com ele.
Até que um dia tem oportunidade de falar com ele. Pergunta o que se passa. De pronto ouve como resposta que o director, em Bruxelas, não autoriza.
Sidónio Freitas não gosta. Vai falar com o director. Diz que é a sua vida pessoal que está em causa.
Como resposta diz-lhe que é verdade que trabalha para a Sheraton, mas, primeiro, para o hotel em Bruxelas. As relações não ficam como antes. Mas a decisão de não o deixar sair mantém-se.
Curiosamente, o hotel no Gabão nunca chega a abrir, e coloca grandes problemas a quem para lá vai.
Sidónio Freitas sente que uma estrela o está a proteger.

O desejo de sair

Um dia escreve ao director de pessoal a manifestar a sua disponibilidade para ir trabalhar com a cadeia em qualquer parte do Mundo. Do outro lado encontra total abertura. Para já, tem hipótese de trabalhar em hotéis que estão para a abrir no Porto, no Algarve, na Madeira e em Lisboa.
De pronto diz que a Madeira é um boa opção.
Entretanto, tem contacto com Karl Joseph Pojer, subdirector do hotel em Bruxelas. Depois das 23 horas, no “back-office”, na recepção, diz-lhe que acaba de chegar da sua terra. Uma terra onde tem uma entrevista com Dionísio Pestana.
Karl Pojer ouve que a família Pestana tem intenção de comprar mais um hotel na Madeira e anda à procura de um director para ir para lá implementar procedimentos semelhantes à cadeia Sheraton. Trata-se do actual Pestana Carlton Park.
Algum tempo depois, Karl Pojer vem para a Madeira como director do cinco estrelas projectado por Óscar Niemeyer.

Karl Pojer

Periodicamente, vai a Bruxelas. O contacto com Sidónio Freitas mantém-se. Este mantém a bússola apontada para a Madeira. Uma realidade já manifestada ao novo director do então Casino.
Até que um dia a Sheraton deixa a Madeira.
Dionísio Pestana mantém a confiança em Pojer, que de pronto pergunta a Sidónio Freitas se, perante o novo cenário, ainda mantém o interesse em vir para a Madeira. A resposta é pronta: sim.
Sidónio Freitas sai de Bruxelas num dia de temporal. É o último avião que levanta nesse dia.

O regresso à Madeira

Na Madeira é entrevistado. Fica na ilha uns dias.
Em Abril de 1990 volta de malas e bagagens, juntamente com a família, que o apoia, para a Madeira.
Vai para o actual Pestana Carlton Park.
Para trás fica a cadeia Sheraton. Um hotel mais vocacionado para os negócios. Pela frente tem uma unidade de “resort”, igualmente também utilizada no nicho de negócios.
Tem como director Karl Pojer.

Abre o Pestana Palms

Um dia mais tarde, é convidado pela administração para abrir um novo hotel do grupo na Madeira: o actual Pestana Palms, de quatro estrelas.
Estamos em 1993.
Habituado a hotéis grandes, tem pela frente um mais pequeno. Chega a pensar e dizer que, com certeza, não estão a gostar muito do seu trabalho e, por isso, o lançam para um novo desafio. Manuel Pestana, o pai de Dionísio Pestana, fá-lo ver precisamente o contrário. Se estão a convidá-lo para abrir uma nova unidade, é porque confiam nas suas capacidades. E verifica que tem razão.
Hoje reconhece que o tamanho do hotel não tem importância. Cada um é um mundo.
E assim acontece.
Como director-geral, Sidónio Freitas faz a abertura do Pestana Palms. Adora o desafio. Participa no projecto de raiz. Descobre uma faceta da sua profissão: agir perante uma diversidade de áreas onde é chamado a dar opiniões. Além de apoiar os técnicos na obra, tem de formar a equipa de trabalho que vai dar alma ao hotel da torre redonda.

Prémios

A unidade é um sucesso. Nos três anos que está como director-geral ganha os mais altos prémios do maior operador turístico europeu: os “Tui Hollys”. Prémios que a colega que lhe sucede, Susana Sousa, continua e aperfeiçoa, visto que alcança num ano o primeiro lugar entre os primeiros no Mundo.
Ainda hoje quando passa pelo hotel sente algo de diferente.

O Pestana Village

Em 1997 tem um novo convite para abrir um outro hotel: o Pestana Village. Vai igualmente como director-geral, juntamente com alguns colaboradores do Palms.
Sidónio Freitas gosta de inovar no que faz. Orgulha-se de ter mudado algumas maneiras de fazer. Por princípio, gosta de encontrar formas diferentes de proceder. Diz mesmo que, na hotelaria, tem a chance de poder experimentar e mudar sempre com o intuito de inovar e prestar o melhor serviço possível.
Considera a abertura do Pestana Village mais difícil. Não esquece a colaboração de todos nos dias que antecedem a abertura, independentemente do local de trabalho. É um por todos e todos por um.
O Pestana Village é um sucesso. Um ano depois começa a ganhar prémios Holly da Tui.
Mais tarde, em 2000, abre um novo hotel: o Pestana Miramar, que está interligado com o Pestana Village, mas que é uma unidade independente. A unidade tem ainda um maior envolvimento de Sidónio Freitas, cada vez mais experiente nestas andanças.

Todas as condições

Hoje reconhece que o Grupo Pestana lhe dá todas as condições para conseguir produzir o seu trabalho o melhor possível.
Há cerca de um ano fica com mais uma responsabilidade: coordenar as compras do grupo na Madeira.
Depois de muitos anos já dedicados ao sector, Sidónio Freitas considera gratificante a actividade no turismo. O contacto com as pessoas é verdadeiramente enriquecedor.
Neste âmbito, recorda os tempos de Bruxelas onde contacta no hotel com personalidades de vulto do Mundo inteiro. Como a unidade é da ITT, as delegações americanas ficam sempre no cinco estrelas. Contacta com figuras como o então presidente dos Estados Unidos da América, George Bush, o secretário de Estado, James Baker, o Presidente da República portuguesa, Mário Soares, e o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, com quem conversa algumas vezes.

Actualização

No capítulo da evolução dos conhecimentos diz que aperfeiçoa de duas formas: com formação contínua e com as vivências diárias.
Além de tudo isto lê muito. Lê sobretudo revistas da especialidade e livros diversos como “Quem comeu o meu queijo?”, que interpreta como uma grande lição, um curso.
A nível da Internet e do correio electrónico, utiliza-os como ferramentas de trabalho.
Em relação aos hobbies, gosta de jardinagem. Joga futebol às segundas-feiras com os amigos. É defesa, um contraponto com a actividade profissional, que é estar sempre na frente para marcar os golos da afirmação, que atestam o empenho que dedica a cada momento à profissão que abraça.
Hoje tem à sua responsabilidade mais de uma centena de pessoas. Mas não é por isso que perde o sono. Metódico, mantém um controlo de tudo o que está sob a sua responsabilidade.
Não tem um tempo médio de trabalho diário. Mesmo quando está a descansar, diz haver uma parte de si que fica desperta para questões relacionadas com a hotelaria.
Por outro lado, como chega cedo, de manhã, considera preciosas as primeiras horas do dia.
Com ironia, diz ter pena de ter nascido na Madeira. Por essa razão não pode apreciar a ilha pela primeira vez...
O mesmo se aplica em relação à hotelaria. Por força da profissão, não consegue ir de férias para um hotel descansado sem olhar a pormenores da unidade, tanto a nível físico como no domínio dos procedimentos.
No fundo, resume que estar na hotelaria assenta na arte simples de saber ouvir, ver e adaptar. 

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