Pedro Ferreira


Da electricidade à Metropolitana


Pedro Ferreira sonha ser engenheiro em Cahora Bassa. O 25 de Abril trava.
Entra na Electricidade da Madeira. Passa pela CMF, pelo Instituto de Habitação, pelo Grupo Porto Bay.
Agora está na Sociedade Metropolitana de Desenvolvimento. Em 2003 parte, para projectos próprios.


A engenharia anda sempre no topo das preferências. A gestão é segunda. Mas sempre perto.
Desde cedo que Pedro Ferreira alimenta a ideia de ir para Cahora Bassa, em Moçambique. Uma revolução em Portugal, a 25 de Abril de 1974, acaba por deitar por terra a ideia. Mesmo assim, termina o curso de Engenharia Electrotécnica, ramo de Energia, um curso que seria o salvo-conduto para entrar na grande barragem hidroeléctrica de África.
Pedro Ferreira faz o curso superior em Lisboa, em cinco anos e mais um semestre. Do seu curso, no Técnico, é o segundo a terminar a formação, entre 110.
Nessa altura, o emprego para os finalistas do curso não é fácil no continente. A Madeira, contudo, tem capacidade para os absorver.
Antes mesmo de acabar o curso, já no final, em Agosto, faz um estágio de um mês na central da Serra de Água, na Madeira.
Regressa a Lisboa. Faz os dois projectos de fim de curso. Volta à Madeira no ano seguinte, para começar a trabalhar em Março/Abril.

Electricidade da Madeira

Após terminar o curso, só tem 15 dias de férias. Vai novamente para a empresa Electricidade da Madeira. Tem a sorte e o azar de ser o último quadro de engenheiros de uma leva se cinco ou seis. Por isso, durante os cerca de cinco anos em que trabalha na empresa, é sempre o engenheiro mais novo. Não tem saída. Faz tudo o que os outros não querem.
Mas essa realidade acaba por ter efeitos positivos. Dá a Pedro Ferreira uma visão global e horizontal da empresa.
Isso não obsta a que não goste imenso de trabalhar na Electricidade da Madeira. Ainda hoje nutre um grande carinho pela empresa. Tem um potencial humano fantástico. É um pouco como o primeiro amor.
A certa altura, a empresa passa por alguma instabilidade. Durante o período em que lá trabalha, conhece três presidentes do conselho de administração. O primeiro é o Eng. Assis Correia, madeirense. O segundo é o Eng. Afonso Sousa Soares, do Porto, que o marca. Há uma empatia mútua. O terceiro é o Eng. Luís Ernesto Jardim, madeirense.

A Câmara

A dada altura, é convidado a integrar a equipa de vereadores da Câmara Municipal do Funchal. Com 29 anos é vereador.
Considera que essa experiência é fortemente enriquecedora.
Recorda hoje o conselho que recebe logo de início do presidente João Dantas. Diz a toda a equipa que aquela vereação é difícil. Acentua que surgirão pressões para haver divisões. Por isso mesmo, tem de haver espírito de equipa.
Pedro Ferreira diz que isso funciona durante os primeiros quatro anos, no mandato que lá está. Não sem que não tenham existido tentativas para dividir.
Nesse período trabalha muito intensamente. Pedro Ferreira tem os pelouros das Obras Particulares, Obras Públicas, Trânsito, Saneamento e, de vez em quando, ajuda na Cultura, que é um pelouro do presidente.
Trabalha quase todos os fins-de-semana, para despachar documentos que não consegue fazer ao dia de semana.
Lembra-se de um dos problemas que enfrenta logo de início: o abastecimento de água ao Funchal. O problema de roturas paira no ar. Há que fazer grandes trabalhos e concentrar muitas atenções.
Da parte urbanística também encontra um caminho difícil. Há muitas pressões. Aí conta com a ajuda do presidente João Dantas.
Pedro Ferreira diz que os pelouros que ocupa não permitem ficar mais de quatro anos sem ficar chamuscado. É preciso dizer não a muitas pessoas.
Neste sentido, um ano antes de terminar o prazo, avisa o presidente que quer sair. Tem de insistir. Essa é mesmo a sua intenção.
Chega a integrar as listas do PSD para um novo mandato. Mas fica apenas cerca de um mês até passar o testemunho.
Na altura, já tem um compromisso para trabalhar no projecto que hoje é o hotel Cliff Bay, do grupo Porto Bay.

Instituto de Habitação

Antes disso, vai montar e presidir ao Instituto de Habitação da Madeira, uma tarefa que aceita.
Com o governo em funções há cerca de um ano e meio, julga que aquele cargo cai quando há eleições. É o tempo suficiente para passar para o projecto hoteleiro, que sofre ligeiros atrasos.
Contudo, não é bem assim. São mandatos de três anos, independentes dos do governo.
Acaba por ficar mais de três anos. Aguenta mais seis meses além do mandato porque há alguma renitência em aceitar a sua saída.
Pedro Ferreira considera a experiência, por um lado, frustrante. Com seis ou sete mil clientes potenciais, só tem possibilidade de satisfazer 500 a 600 por ano. E, mesmo assim, nem sempre esse objectivo é atingido.
Na câmara, apesar da falta de recursos com pequenas coisas, acaba por ter a sensação de dever cumprido.

O sorteio
Enquanto presidente do Instituto, recebe inúmeras pessoas a solicitar casa. Grande parte das vezes tem de dizer que não é possível. Isso não invalida que conforte as pessoas com palavras. Mesmo com a negativa do pedido. Tem a sensação de que acaba por fazer as pessoas saírem do seu gabinete mais satisfeitas do que entram. O suporte informático permite conhecer bem as pessoas que recebe quase todas as manhãs no seu gabinete.
Durante o mandato, lança um projecto inovador para parte dos processos: um sorteio feito no antigo Cine Jardim. Sem truques, centenas de candidatos vêem a transparência do processo. Os mais sortudos “ganham” a casa.
Mesmo assim, ainda surgem vozes inconformadas. A solução é convidá-los. Convidá-los para serem eles próprios a tirar as bolas com os nomes dos felizardos. Dá certo. A plateia acalma.
Deixa o Instituto e entra para o Cliff Bay. Acompanha toda a montagem do hotel de cinco estrelas.
Começa como director de projecto, cargo que ocupa durante o primeiro ano.
No terceiro ano, já é administrador do grupo e posteriormente do hotel Porto Santa Maria e do grupo Porto Bay.
Pedro Ferreira deixa de ter o pelouro do Cliff Bay totalmente. Passa a ter o do pessoal e manutenção nos três hotéis. Isto funciona nos últimos dois anos em que está no grupo Porto Bay.
Considera a hotelaria entusiasmante. E, no seu caso pessoal, tem um ambiente de trabalho excelente.
A perspectiva de mudança paira no ar. Ao contrário dos outros lugares onde está três/quatro anos, já vai com sete nos hotéis.

Metropolitana

Com um novo governo, o vice-presidente do Governo Regional, João Cunha e Silva, convida-o, para um novo desafio. Numa primeira fase, hesita.
Mas o desafio de estar na génese de um novo projecto e de pôr de pé a Sociedade Metropolitana de Desenvolvimento cativa-o. Aceita. Hoje é presidente da Metropolitana, uma sociedade de desenvolvimento que abrange os concelhos de Câmara de Lobos, Funchal, Santa Cruz e Machico e que está a desenvolver projectos e ideias, numa primeira fase, junto com os seus sócios, o Governo Regional e as autarquias, e, numa segunda fase, fazer parcerias estratégicas com empresas privadas, no sentido de desenvolver projectos de interesse mútuo.
A diversidade de acção é tão grande que não antevê tão cedo a entrada na rotina, que detesta por considerar atrofiante.
A grande aposta da sua vida, um projecto inicialmente previsto para o próximo ano, tem um ligeiro adiamento, porque não é seu timbre deixar nada a meio.
Pedro Ferreira revela que tinha um grande objectivo de vida para os 45 anos, agora só possível aos 47. São projectos pessoais, menos intensos e mais pequenos. A ideia é ter uma vida com menos “stress”. Passa por gerir algum património familiar, que considera estar um pouco parado. Um deles será, com grande probabilidade, a hotelaria.
Pedro Ferreira tem o condão de planear a sua vida profissional com um/dois anos de antecedência.

“Vice” na ACIF-CCIM

Apesar do empenho que sempre dedica ao trabalho, consegue tempo para “hobbies”.
Mas durante um período não consegue jogar o seu golfe. É na altura em que passa pela direcção da ACIF-CCIM. É vice-presidente da Direcção e presidente do sector do Turismo. E, por inerência, é administrador de uma empresa no Madeira Tecnopolo. Não consegue sentir a gestão da instituição. Isso incomoda-o.
Assim, num dia de Dezembro, toma a decisão irreversível de deixar a administração do Madeira Tecnopolo, e, de pronto, decide jogar golfe com mais frequência e recomeçar o ténis, modalidade que não pratica há largos anos. Em três meses está recuperado do desgaste.
Hoje, da ACIF-CCIM recorda pessoas excepcionais da direcção, a começar pelo presidente, Anthony Miles, que considera uma pessoa excepcional.
Recorda igualmente Eduardo Jesus. E outros.
Actualmente, joga duas vezes por semana ténis, em vez de almoçar. Ao fim-de-semana, joga golfe. São tónicos essenciais para o equilíbrio psicológico.
Além do desporto, lê muito. E lê muito porque gosta e dorme poucas horas. Dorme 5,5 a 6,5 horas por dia. Não precisa de mais. Por essa razão, quando está na Câmara Municipal do Funchal e vive no centro da cidade, chega a estar pelas sete horas no seu gabinete.
Não tem uma preferência de leitura especial. Lê tudo. Mas aprecia romances, de escritores portugueses. Gosta também de biografias.
Além disso, lê livros de gestão e de ensaios. Às vezes lê em inglês, embora mais devagar.
Gosta de poesia, mas não de a ler. Não gosta de ficção científica.
Normalmente está a ler mais do que um livro ao mesmo tempo.
Tem o hábito de fazer notas nos livros para mais tarde recordar e aceder com maior facilidade às mesmas.
Também vai ao cinema. Mas não tanto como quando estuda em Lisboa. Não é muito fã da televisão.

Sempre “up-date”

A nível do relacionamento com as novas tecnologias, é positivo.
Quando não tem Internet, fica nervoso. Pesquisa muita informação.
O “e-mail” é uma ferramenta de ponta que não dispensa.
E, nos telemóveis, procura ter sempre os mais evoluídos. Não por uma questão de vaidade, mas pela vantagem tecnológica que possibilitam.
Outra das suas características é conversar. Tem um grupo quando trabalha no centro e acaba por fomentar outro depois de sair para a zona hoteleira. Ali confraterniza logo de manhã com um grupo de amigos.
Aos sábados gosta de passear pelo centro do Funchal.
Durante a sua vida profissional, só uma vez tira um mês completo de férias. Gosta de tirar, mas aos poucos, durante o ano.

O bater de calcanhares

Entre alguns dos episódios que recorda da sua carreira, apontamos um que se passa quando está no município.
Um dia há uma iniciativa cultural no teatro municipal. O presidente da câmara não pode estar presente. Resultado: Pedro Ferreira vai representá-lo.
Uma das presenças no evento é a da consulesa da Venezuela na Madeira. E para estar presente no teatro deixa o filho em casa. Sempre preocupada, numa altura em que não existem os telemóveis, pede ao presidente em exercício para telefonar. De pronto, Pedro Ferreira leva-a ao gabinete do director.
Enquanto liga, espera no “hall”, onde está um bombeiro. Como não gosta de estar parado, anda de um lado para o outro.
Passa à frente do “soldado da paz” e nota que ele faz um gesto. Não o percebe bem.
Nas suas voltas decide passar novamente pelo bombeiro, para ver o que se passa. Para seu espanto, volta a fazer o gesto. Mesmo assim pensa ser coincidência.
Com o intuito de tirar a “prova dos nove” volta a cruzar-se. De pronto surge o movimento.
Curioso, mais tarde, conta o sucedido e procura explicações. Dizem que os bombeiros têm por norma cumprimentar os presidentes de câmara e vereadores com um bater de calcanhares.
De pronto, entra em contacto com o bombeiro e conta-lhe o sucedido. De forma alguma estava a brincar. Por isso mesmo pede desculpa.

BI

Nome: Pedro José da Veiga França Ferreira
Data de nascimento: 1957-9-1
Naturalidade: Sé, Funchal, Madeira
Estado civil: Casado
Filhas: Duas

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