Luís Ernesto Jardim


Da energia à farinha com vela e arte


Luís Ernesto Jardim nasce em Lisboa durante os estudos do pai, que é madeirense. Passa por muitas etapas na vida e hoje divide o seu tempo por uma série de actividades profissionais, associativas e de lazer. Um dos seus hobbys são os objectos de arte, sobre a qual lê e estuda. Principalmente peças de pintura, móveis e loiça. Conhece-as e colecciona-as. Um gosto que vem desde os tempos de universidade.
(Falecido)


Nasce em Lisboa, em São Sebastião da Pedreira. Mas considera-se madeirense, tal como o pai, que estudava na capital, e a mãe.
Com quatro anos vem para a Madeira.
Frequenta o Colégio Lisbonense, na primária. Depois vai para o Liceu (hoje Escola Secundária de Jaime Moniz) onde foi um aluno normal. Dispensa, sempre que possível, dos exames orais. Nunca perde nenhum ano.
Completado o ciclo de estudos na Madeira ruma a Lisboa. Ingressa no Instituto Superior Técnico para cursar engenharia.
Apanha a transição dos seis para os cinco anos de duração do curso. O seu é de cinco anos e meio. Ou seja, o seu último ano é condensado num semestre.
Licencia-se em Julho de 1971 em engenharia mecânica.

O 1.º emprego

Após um curto período de férias volta para a Madeira. Começa a trabalhar, como estagiário, a um de Outubro de 1971 na única central térmica existente então na ilha. Fica no edifício onde hoje se encontra o Museu de Electricidade.
O organismo para onde trabalha denomina-se Comissão Administrativa dos Aproveitamentos Hidráulicos da Madeira, que supervisiona a captação de águas na Região, com as centrais hidroeléctricas e produção de energia térmica. Comissão que tem como primeiro presidente Amaro da Costa, no final da década de 40.

O Prof. Luís

Luís Ernesto Jardim começa por integrar a equipa de manutenção das centrais existentes.
Os quadros são poucos. Todos têm de ser polivalentes ao máximo.
O estágio dura até ao final do ano.
Passa para os quadros no início de 1972. Ali fica durante todo o ano.
No final de 1971, todo o ano lectivo de 1972 e início de ano lectivo 1972/73, dá aulas, no período pós-laboral, de Matemática no Liceu, nos dois primeiros anos. No último, como sabe que a tropa o espera em Março, ensina Desenho Técnico na então Escola Industrial (hoje Escola Secundária Francisco Franco).

A tropa

Em 1973, no mês de Março, vai para a tropa.
Cumpre a recruta em Mafra, integrado na carreira de oficiais. Portugal está plenamente envolvido na guerra do ultramar. A ida para as primeiras linhas, para além de um transtorno constitui um grande perigo.
Faz a especialidade de serviços técnicos de manutenção auto em Sacavém.
Algum tempo depois está a comandar uma companhia em Moçambique, na Beira.
Não nega que a tropa, apesar do compasso de espera que provoca na sua vida profissional, teve a vertente positiva de fomentar a organização e disciplina.
Durante o período de tropa, em Setembro de 1973 casa.

Regresso à empresa

Dá-se o regresso à Madeira. Não tem qualquer vínculo à Comissão. Mas a carência de quadros joga a seu favor. Quando sabem que está para breve o seu regresso à Região, é convidado para voltar a ocupar o anterior posto de trabalho na agora denominada empresa de Electricidade da Madeira. Estamos em 1975.
Há um período de grandes dificuldades na empresa. A nível financeiro e no abastecimento de energia.
Lembra-se de períodos em que haviam cortes programados no fornecimento de energia. Os grupos produtores não são suficientes para satisfazer a procura.
A empresa não se equipara com o devido tempo para suportar o crescimento da procura de energia.
Passa a ser o chefe dos serviços de produção.
Há que fazer um grande planeamento no sentido de reequipar a empresa.
A empresa admite um novo quadro com a sua especialidade. Luís Jardim transita para o Gabinete de Estudos e Planeamento, como adjunto do eng. Álvaro Afonso, que era então director.
Acompanha, desde a primeira hora, toda a concepção do principal centro produtor térmico da Região, na Central da Vitória, até tê-la a produzir em velocidade de cruzeiro.
Aproveita para fazer um curso em Inglaterra na Hawker Siddeley, sobre motores diesel, orientada para centrais térmicas. Isto porque, na Madeira, não consegue qualquer tipo de “know-how” sobre toda a evolução que a técnica de fabricação e equipamentos para produzir energia conhece.

A presidência

Entretanto, em 1979, dá-se a regionalização da Empresa de Electricidade da Madeira. É nomeado um novo conselho de administração. Luís Jardim integra o novo órgão como vogal em Janeiro de 1980.
Mais tarde é remodelado o Conselho de Administração. Luís Jardim torna-se presidente em meados de 1980.
Ali fica durante 12 anos consecutivos.
É um período em que se dão grandes passos de modernização, transformação e na normalização da vida interna da empresa. Recorda esse tempo com satisfação não só pelo trabalho desenvolvido como também devido ao grande espírito de equipa.
Diz que houve uma bandeira e meta que cumpre: levar luz a toda a gente. A meta é conseguir uma cobertura total a nível de electrificação da ilha nos lugares com mais de 20 habitantes. Apesar de ambiciosa é concretizada em 1986/87.

Virtudes regionais

O empresário sublinha que uma das grandes virtudes da regionalização de empresa é precisamente ter uma leitura própria das especificidades da ilha. Se fosse regida pelas medidas nacionais, que estipulavam electrificar lugares com mais de 50 pessoas, a Madeira hoje não estava totalmente electrificada.
Consegue normalizar toda a vida económico-financeira da empresa, ao ponto de considerar que se torna invejável neste domínio. Na prática, a hoje denominada Electricidade da Madeira tem sido líder nas melhores empresas da Região.

Bom relacionamento

Sente que a sua passagem pela empresa consegue levá-la a atingir a velocidade de cruzeiro.
Não esconde a satisfação pelo bom relacionamento que sempre teve com as estruturas representativas dos trabalhadores. Recorda que foi necessári muita dureza para que a vida da empresa se normalizasse. «Toda a força laboral, neste país, deveria seguir exemplos semelhantes ao que desenvolvemos na Empresa de Electricidade da Madeira, em que havia uma única estrutura representativa dos trabalhadores: o Sindicato dos trabalhadores da Empresa de Electricidade da Madeira. Defende os direitos e os deveres dos trabalhadores para aquela empresa. Isto ajudou-nos muito na medida em que os direitos e os deveres foram sempre salvaguardados.» Deixa claro que um mesmo sindicato generalista a tratar de assuntos de empresas diferentes não é a melhor solução, já que não há um conhecimento mais pormenorizado da vida de cada empresa.
Aliás diz mesmo que pelo facto de não ser feito desta forma no país é que estamos com tão baixos índices de produtividade.

O Grupo Insular

Em 1993/1994, quando é lançado um novo desafio na sua vida. Deixa aquela que foi a sua primeira empresa para lançar-se no sector privado. A Insular espera por si.
Trata-se de uma empresa que desenvolve a sua acção noutra área distinta: moagem de trigo para a fabricação de farinhas; fábrica de massas, bolachas; assim como o armazenamento dos cerais e logística de distribuição e de vendas.
O Grupo Insular, com as suas várias empresas, representa para si um desafio interessante, num sector alimentar base, altamente concorrencial, com um mercado aberto a ditar as regras.
Mas a energia não fica esquecida. Paralelamente, desde 1997/1998, juntamente com uns parceiros estratégicos, põe de pé uma central térmica totalmente privada. Labora desde meados do ano 2000, na Zona Franca Industrial no Caniçal, integrada no Centro Internacional de Negócios da Madeira, e vende energia à sua antiga empresa.

De novo a energia

Trata-se de um puro “project-finance” cuja remuneração do investimento é feito ao longo dos anos.
Luís Ernesto sublinha que só com conhecimento se pode entrar numa aposta desta natureza. «Sem know-how será muito difícil viabilizar um projecto deste tipo, com uma central térmica convencional, onde os montantes investidos são avultados e as responsabilidade são grandes.»

O mar

No domínio dos hobbys tem na vela a sua grande paixão. É, durante dois mandatos, presidente do Clube Naval do Funchal. Divergências internas levam Luís Ernesto Jardim a criar um a associação, juntamente com um grupo de alguns desportistas. É criada a Associação Náutica da Madeira, vocacionada para a parte desportiva. Considera ser a associação que mais desportistas tem tido, sob o ponto de vista individual, em campeonatos nacionais e internacionais.
Hoje continua a ser o presidente da Associação. O grande desafio é pôr a funcionar as novas instalações, feitas de raiz, na Ribeira do Natal.
Na prática, é um hobby que lhe tira algum tempo. Aliás, considera que é muito difícil ser dirigente desportivo na Região por ser feito como hobby e sem qualquer interesse material.
Além das dificuldades económico-financeiras, o dirigente está sempre sujeito a críticas e, algumas vezes mal acarinhado.
Por isso mesmo, considera que, por vezes, há um desânimo total em continuar, mas o apelo do mar é forte.
Além da componente associativa é praticante de vela com o seu iate Berrio.
Está a fazer um interregno, mas pensa em breve voltar a fazer algumas regatas. E, se possível, cumprir o calendário regional.

A arte

No seu íntimo aguarda a oportunidade de fazer uma travessia do Atlântico. A vida profissional ainda não proporcionou o momento mais adequado. A travessia, só num trajecto, demora entre 20/30 dias, mas carece de uma preparação de cerca de seis meses desligado do trabalho. Para já, o trajecto mais longo que fez foi Madeira-Vilamoura-Gibratar e sul de Espanha. Um mês de férias não permitiu ir mais longe.
Isto para além das regatas que acontecem de dois em dois anos entre Canárias e a Madeira.
Outro hobby, que ocupa algum do seu tempo a ler e a estudar, são objectos de arte. Principalmente peças de pintura, móveis e loiça. Conhece-as e colecciona-as. Um gosto que vem desde os tempos de universidade.
É utilizador frequente da Internet, com a qual diz não se poder viver. «Para quem ainda está na vida profissional activa e tem hobbys a Internet é uma peça
absolutamente indispensável.» 


(Falecido)

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