Luís Camacho


Ousadia e visão criam empresário


A gestão do seu negócio de hotelaria, com o conceito de base Regency, assenta nos mesmos princípios de uma cadeia internacional, sem ter custos de franshising.


Luís Camacho nasce em São Domingos de Benfica, em Lisboa, na altura em que o pai trabalha na Siderurgia Nacional. Depois de acabarem os cursos, os pais decidem ficar pela capital.
Luís Camacho vem para a Madeira com cerca de dois anos. Hoje é um madeirense assumido.
Não tem dúvidas em afirmar que faz o que gosta. É considerado um empresário de sucesso.
Quando estuda no liceu o seu sonho era, por esta ordem de prioridades, ser arquitecto, engenheiro mecânico e gestor ou economista.
Faz testes psicotécnicos em Lisboa para saber qual o melhor caminho. A resposta que obtém é que o primeiro curso deveria ser relações públicas e o segundo, economia e gestão. Uma satisfação para o pai.

Experiência ou curso

Entretanto, dá-se um acontecimento. Com a morte do avô e de um tio, o pai fica com a maioria do capital da empresa dona dos Camachos. Nessa altura Luís Camacho está a terminar o antigo 7.º ano (actual 11.º). O pai dá a hipótese de ser empregado e ganhar experiência, juntando-a à que habitualmente adquire nas férias, quando trabalha na secção de desporto dos Camachos, ou ir estudar para o continente.
A ida para Lisboa não é encarada com grandes entusiasmos. Mas, se assim optasse, tirava o curso e regressava como sócio maioritário e administrador.
O casamento andou por perto. Só o faz aos 30 anos.
A opção recai sobre o curso. Parte para Lisboa.
Termina o curso e é chamado a cumprir o serviço militar obrigatório. Está quatro meses na Figueira da Foz e um ano na Madeira, em serviço no Quartel-general. Uma situação que lhe permite sair, algumas vezes, para trabalhar nos Camachos.

Primeiros empregos

Acaba a tropa e decide começar a trabalhar na empresa familiar e ainda estagiar de manhã na Intercontinental madeirense do Grupo Pestana, onde trabalha com Peter Both, que cria a primeira unidade de time-sharing na ilha. Contudo, passados estes anos, considera que teria sido melhor ter feito um percurso diferente. Seria mais proveitoso, ter passado por empresas de auditoria para ganhar experiência.
Mas há uma certa urgência: alguém tem de tomar conta dos Camachos.
Recorda que, mesmo durante a tropa vê colecções de roupa em Itália, França, Espanha e Alemanha e recebe fornecedores.
A sua entrada na empresa não é pacífica. Encontra resistências nos sócios mais velhos, que detinham 40 por cento da sociedade. Não encaram bem um jovem de 23 anos à frente da empresa.
Além disso, o primo, Ricardo Camacho Rodrigues, que esperava vir a contar como seu braço direito, sai para lançar o seu projecto próprio.
Não havia espaço de manobra. Luís Camacho tem de afirmar-se. Hoje recorda aqueles anos como uma grande escola a nível de relações de trabalho, direito laboral e de conhecimentos. Orgulha-se do sector comercial que lhe dá ensinamentos para a sua posição actual.
É essa experiência que abre as portas ao primeiro franchising: a Massimo Dutti, na Rua da Sé. Um projecto que nasce em 1991 e que o impulsiona a ter hoje 26 lojas na Madeira e no continente.
Durante este período compra a empresa Gaspar & Irmãos, na Rua dos Ferreiros, onde estão a Casa Leonesa e a Casa Gaspar. Implanta a franchisada Alain Manoukian.

O franchising

Cria uma marca própria: a Destroyed, que acaba por não ter o sucesso esperado. É uma tentativa de remodelar os Camachos, acabando com a papelaria, onde existiam seis/sete empregados. Coloca, assim, no seu lugar uma secção jovem de roupa, com uma só empregada e que, primeiro ano, vende duas ou três vezes mais. Mas não chega e acaba com a destroyed.
Aumenta a sua posição nos Camachos. Alarga a actividade do franchising. Encontra neste segmento de negócio uma grande oportunidade. Ressalva, no entanto, que franchising não é sinónimo de bom negócio. Tem de ser mesmo bom, uma vez que tratam de tudo o que é necessário para montar e desenvolver uma loja.
Os problemas comuns do comerciante clássico continuam nos Camachos. Pela frente, Luís Camacho depara-se com duas saídas: manter uma loja clássica, e tinha de dar uma volta completa no negócio Camachos, que diz não ter dinheiro para o fazer, ou, então, lança um mini-centro comercial com lojas, «que hoje estariam desactualizadas.»
Toma uma terceira opção. Vende o edifício Camachos, na Rua do Aljube, à multinacional espanhola Zara. É uma altura que trouxe alguns contratempos, mas consegue resolver. Hoje recorda esse tempo com satisfação, sobretudo perante as más-línguas que diziam, na altura, ser mais um que delapida o património da família. «Oito anos passados facturamos 15 vezes que o último ano de Camachos e temos o que está à vista», salienta, com orgulho.

Ser empresário

No meio de tudo isto, a única coisa que lamenta na venda do negócio prende-se com o que diz ser o “bichinho dos trapos”. Gostava de escolher colecções, onde perdia muito tempo. Tempo que, hoje é ser muito precioso para dedicar aos negócios. «Se não o fizesse, seria como o meu avô: comerciante toda a vida. Viajou pelo mundo todo, mas não passou dali, apesar de ter construído uma grande empresa.» «Entendo que, se alguém considera que pode ir mais longe, deve fazê-lo com toda a convicção.»
Está fechada uma etapa na sua vida. Agora é tempo de fortalecer o negócio do franshising. Mas não só.
Ricardo Camacho, o seu pai, tinha a experiência de ter aberto com a família Pestana o Sheraton e de ter dado os primeiros passos para a construção do hotel Marbello, onde hoje está o Madeira Regency Palace.

A mulher

Acontece que, na altura da venda dos Camachos, dá-se a oportunidade de comprar o Madeira Regency Club, no Funchal, na Rua Carvalho Araújo. Estamos em 1994.
Casa com a inglesa Kimberley Camacho, que comercializava produtos de time-sharing. «O facto de estar com ela foi importante, na medida em que me despertou para as potencialidades do negócio.»

A oportunidade

Quando surge a oportunidade acolhe-a de pronto com o seu pai.
Hoje tem a marca Regency registada. O padrão assenta na denominação em três nomes, com a palavra Regency sempre no meio.
Reconhece o papel importante que o madeirense Miguel Almeida, já falecido, teve no início. Igualmente, refere que o actual director-geral, Miguel Andrade, trouxe todo o saber fazer da cadeia internacional Intercontinental, onde trabalhou durante 10 anos.
No fundo, diz que a gestão do seu negócio de hotelaria, com o conceito de base Regency, assenta nos mesmos princípios de uma cadeia internacional, sem ter custos de franchising.
Após arrumar a casa do Madeira Regency Club surgem dois caminhos: parar ou aumentar a aposta neste sector. O caminho é crescer.
A nova aposta na hotelaria é no Madeira Regency Palace. Inicialmente iriam entrar sócios estranhos à família, mas a componente de auto-financiamento que o time-sharing permite, dispensa-os. O tio Tomás dos Santos, proprietário do terreno, é o grande impulsionador do projecto, juntamente com o pai. A inauguração do hotel de cinco estrelas é memorável.

Hotel em Lisboa

A bola de neve começa a crescer. Ultrapassa mesmo as fronteiras regionais. Dá-se uma oportunidade de parceria com Ornelas Monteiro, em Lisboa, com um hotel de cidade pequeno no Chiado: o Lisboa Regency Chiado
Surge igualmente o negócio do Madeira Regency Cliff, onde tem como sócio o empresário madeirense Duarte Correia.
A juntar a estas quatro unidades Regency Hotels & Resorts, o Grupo Camachos explora ainda o Golden Gate e o Beriligths.
E, ao longo de todo este tempo vão surgindo outras oportunidades. Luís Camacho estuda-as. Defende que uma das virtudes do empresário é seleccionar bem.
Na calha estão três projectos: o Madeira Regency City, no centro da cidade do Funchal; o Camacha Regency Lodge, na Camacha e o Madeira Regency Bay, na Estrada Monumental. Todos serão de quatro estrelas, com excepção do último, que poderá ter cinco.

O Algarve

Fora de portas tem outros projectos entre mãos, nomeadamente no sul do país, no Algarve. Trata-se de um empreendimento de time-sharing, com casas, um terreno onde poderá vir a ser erguido um novo hotel, e cerca de 200 apartamentos, comercializados em regime de habitação periódica. Está situado em Albufeira, a zona onde existem mais turismo naquela região.
Vai chamar-se Albufeira Regency Club.
Outro segmento de negócios onde Luís Camacho e o seu grupo tem participação é na Madibel, no sector das bebidas, e ainda na SLN - Sociedade Lusa de Negócios, proprietária do Banco Português de Negócios.
Na componente das lojas não existem projectos entre mãos, a não ser o que o levou ao Brasil, mas que não resultou como esperava. Por isso, está a desfazer-se de tudo naquele país, que considera muito perigoso para negócios.

Presidente da AJEM

A juntar à sua actividade empresarial, é eleito presidente da direcção da Associação de Jovens Empresários Madeirense há cerca de um ano, da qual é vice-presidente desde o início. Considera um desafio interessante, mas como diz na sua tomada de posse, será o primeiro e último mandato, por atingir o limite de idade.
Diz que cumpre a função em prol dos jovens empresários e não com qualquer ambição política. «A minha política é as empresas.»
Luís Camacho não se considera um “self-mad-man”. Diz que a sua gestão deveria ser mais descentralizada, mas com o crescimento empreendido entre 1994 e 2002 torna-se difícil concretizá-lo. Não obstante tem pessoas de confiança nos sectores chave. Não esquece igualmente a importância de João Alexandre Silva. Além de grande amigo é um forte conselheiro que o tem encaminhado para muitos dos investimentos.

Empresário 24 horas

A nível do tempo de trabalho não lhe diz nada afirmar que o faz durante um determinado número de horas sentado à secretária. Explica que, como empresário, está 24 horas preocupado. «Sonho com problemas e, às vezes, levanto-me às quatro da manhã para encontrar soluções. Posso igualmente estar numa piscina a apanhar sol e ter a cabeça a trabalhar. E o telemóvel não me deixa estar quieto.»
Luís Camacho procura imprimir nas pessoas com quem trabalha o cultivo da modéstia, no sentido de terem sempre predisposição para aprender.
Hoje trabalham no seio do seu grupo mais de 700 pessoas.
Não é muito dado aos livros. As suas leituras recaem mais na imprensa. Não sai de casa sem ler os três jornais da Madeira que assina. «Gosto de me manter informado», o que é complementado com a imprensa nacional e internacional.
Adora cinema e é um grande apreciador do 007. Um deles não se cansa de rever: o Goldfinger, para ver o carro dos seus sonhos, um Aston Martin cinzento, com interior azul-escuro.
A nível dos computadores considera-se um utilizador normal. Uma prática que empreendeu mais quando esteve a especular com moeda.
Tem e-mail mas utiliza-o pouco. É uma tarefa que deixa mais à secretária. Em casa tem interent, mas é mais a mulher que a utiliza.
Inclusivamente chegou a ter agenda electrónica. Mas deixou-a. «Confio mais num bloco escrito.»
Agora não dispensa o telemóvel, embora queira ter a vida organizada para utilizá-lo cada vez menos.
Quanto a hobbyes pratica ténis, gosta muito de carros e do mar. Curiosamente, enjoa. A solução é ter sempre barcos rápidos para não sentir cheiros nem muitos balanços.
Viaja muito, mas mais por motivos profissionais. Tanto é assim que em 1998 é considerado o passageiro número 1 da TAP - Air Portugal. 

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