José Lino Pestana


“Embaixador” do Porto Santo

José Lino é um dos mais emblemáticos empresários e personalidade incontornável da economia do Porto Santo. Comerciante há já algumas décadas, abraça igualmente o projecto do seu clube de sempre: o Porto-Santense.


José Lino Pestana estuda até à quarta classe. É o que se pode fazer, na altura em que nasce, no Porto Santo.
Não é um aluno brilhante. Gosta mais da extensa praia dourada que banha o litoral sul da ilha.
É filho único de Manuel Batista Pestana, pescador, e, posteriormente, tripulante de carreiros durante cerca de 40 anos, e de Maria de Melim.
Cresce numa ilha perto geograficamente mas distante na sua dupla insularidade. Há um isolamento acentuado. É uma ilha que diz claramente que, se hoje se fala em dificuldades inerentes à dupla insularidade, naquele tempo e nos muitos anos sequentes anda pela, quinta, sexta ou décima insularidade.
Assim que termina a escola primária começa a trabalhar. Numa taberna. O mar continua a ser igualmente apelativo. Descuida-se das tarefas e busca mais o conforto da praia e das águas cálidas que a banham. Resultado: o patrão não gosta e tem de deixar o trabalho.

A Casa Faria

Já com os seus 17 anos, encontra um novo emprego. Na Casa Faria. Que ainda hoje existe. Trabalha ao balcão cerca de 30 anos.
Por lá vende-se de tudo.
O patrão é gerente igualmente de uma loja de bordados.
José Lino começa por trabalhar, à experiência, durante quatro meses. Sem ganhar nada. Varre a casa e começa a aprender.
Hoje reconhece que tem um grande patrão, embora não pague muito bem. Reconhece que, naquele tempo, não se pode fazer melhor.
José Lino evolui. A Casa Faria faz o agenciamento da Companhia Insulana de Navegação. Vende bilhetes dos navios que fazem as ligações entre a Madeira e o Porto Santo. Passam pela loja milhares de pessoas, entre madeirenses e estrangeiros. A missão de agenciamento e de venda de bilhetes é da sua incumbência.
Mais tarde, entra mais uma empregada.

O 1.º empréstimo do BNU

José Lino merece a confiança do patrão, que vê a idade a avançar. A certa altura, deixa que faça compras e pague os fornecedores, entre muitas outras tarefas.
Os tempos passam.
A um dado momento, surge a oportunidade de comprar a emblemática “Baiana””, no centro da vila. José Lino compra-a, juntamente com o patrão da Casa Lino, e com um outro sócio. Pagam 13 mil escudos pelo negócio. Curiosamente, para concretizarem a compra, contraem o primeiro empréstimo no Banco Nacional Ultramarino em Porto Santo, com um montante de 10 mil escudos.
Algum tempo depois, o terceiro sócio cede a sua parte. José Lino e o seu parceiro ficam com 50% da sociedade cada um.

O centro da ilha

A “Baiana” é o centro da ilha. Ali vão as figuras mais destacadas da Região e do país. Durante o Verão.
Um dia, morre o patrão, Firmino José Augusto Faria. As filhas verificam que José Lino é a pessoa indicada para continuar os negócios do pai. Desse modo, facilitam a compra tanto da Baiana como das duas lojas, nas quais o patrão tem 100% do capital social.
Com alguma engenharia consegue algum dinheiro. Outro tanto é obtido com uma letra que vai descontando ao longo do tempo.
Mais tarde, José Lino vende a sua Baiana. A exigência de mais tempo não facilita acumular os negócios. As duas lojas já preenchem muito do seu tempo.
Além do mais, o filho mais velho não mostra grande apetência para continuar os negócios do pai. Opta por outro trabalho.
Igualmente o filho mais novo vem trabalhar para Madeira. Para o aeroporto.

Supermercado Zarco

Empreendedor, a um dado momento, abre o supermercado Zarco, junto ao antigo cinema. Faz uma sociedade com mais três sócios: João Albino da Silva, José Reis Pestana Leão (o dono do prédio) e José Florêncio Fontes.
Estamos antes do 25 de Abril. Os produtos são tabelados. Não permitem grandes lucros. Por exemplo, no azeite, só pode ganhar 25 tostões, e nas semilhas, mais um escudo em quilo.
Chega a ir a tribunal por duas vezes. Por ultrapassar as margens de lucro.
Naquele tempo têm que empacotar quase tudo, desde o arroz ao feijão.
Com a revolução de Abril, o dono do prédio decide deixar a sociedade. José Lino mantém-se com os outros dois sócios.

Conhecimentos

Mais tarde, vende a sua parte.
Hoje mantém as lojas Faria e Lino, no centro da cidade. Diz que continua a trabalhar, sempre com algumas dificuldades. Não está arrependido, mas diz que o comércio no Porto Santo não lhe permite progredir muito. Até porque não se reconhece muito arrojado.
E, contrariamente ao que dizem, deixa claro que, infelizmente não é rico. Admite sim que tem conhecimentos e que tudo tem feito em defesa da sua terra.
Durante o seu percurso, já longo, José Lino conhece muita gente. Não só da Madeira como do continente português.

O Porto-Santense

Mais tarde, com o clube da ilha: o Porto-Santense, de que é presidente há quase 30 anos, ajuda a ampliar e cimentar essa projecção ao ponto de hoje ser um dos empresários mais emblemáticos de Porto Santo.
Diz que o seu nome é conhecido, até nas anedotas, que, conforme salienta, vêm parar sempre a José Lino do Porto Santo.
Curiosamente, o antigo patrão é quem funda o clube com mais três pessoas. Diz que o Porto-Santense, praticamente nasce na casa Faria. Daí que quando morre o senhor Faria, José Lino toma as rédeas do clube. Em 1978.
José Lino lembra os tempos difíceis do clube. Alturas em que os jogadores, maioritariamente pescadores, nem tinham botas. E, um dia, com botas emprestadas por outro clube, acabam por perder por 18-0, precisamente por não estarem habituados.
Mas as coisas mudam. Hoje o clube tem sede própria e campos de futebol. Um tem o seu nome. E se o clube não está nos lugares cimeiros no futebol, consegue afirmar-se em modalidades como o hóquei em patins.
José Lino nutre um especial carinho pelo presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, e por todo o governo, em geral, pelo que têm feito pelo Porto Santo e pelo carinho que nutrem por si.

A Câmara Municipal

José Lino chega a ser vereador na Câmara Municipal do Porto Santo, antes do 25 de Abril. Numa altura em que José António Taboada é presidente do município. Mas, com o 25 de Abril, são saneados.
Os tempos livres são dedicados maioritariamente ao clube de sempre. Com os compromissos contínuos perde o hábito de ir à praia.
Hoje, contudo, já não acompanha muito as equipas. Recorda que durante algum tempo debate-se com más recepções no continente. Que o aborrecem. E que o fazem pagar com a mesma moeda quando se deslocam ao Porto Santo.
De certa forma, está desgostado com o futebol. Que diz ser uma mafia, que possibilita ganhar jogos à secretária.
José Lino não esconde que gostaria de ter alguém com vontade de tomar as rédeas do clube em seu lugar. Sente pena por poder ter de deparar-se com um eventual esmorecimento do clube que ajuda a crescer.
Gostaria de ter mais tempo para dedicar-se às flores, mas não consegue.
José Lino faz poucas férias. Além disso, não gosta muito do avião. Mas quando precisa lá vai. Não se lembra de tirar muitos dias seguidos.
Em termos de trabalho diário, começa bem cedo. Vai para a loja. Almoça em casa. Faz uma sesta. Regressa aos negócios. E ao clube.
Além disso gosta de conversar e de discutir com os amigos.
A dada altura, por questões políticas, chega a ser chamado a Carlos Azeredo. Apanha uma má viagem até ao Funchal.
Isso não impede de continuar a defender o seu Porto Santo.
Hoje em dia, José Lino ainda encontra tempo para ler, mais “A Bola”. Também lê os jornais regionais. Sobretudo quando trazem alguma questão do Porto Santo.



2003-07-04

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