Duarte Saldanha


Um criativo na Madeira

Duarte Saldanha é um jovem empreendedor que decide seguir o seu próprio caminho para colocar em prática os projectos que idealiza.
Cria uma empresa para a criação de programas de software.


por: Paulo Camacho


Desde cedo que mostra um particular interesse em saber como funcionam as coisas. Coisas que, normalmente, são para brincar. Nos primórdios dos computadores, em que o “ZX Spectrum” é rei nas casas dos madeirenses e dos restantes portugueses, Duarte Saldanha não nutre um especial interesse pelo jogo em si. Prefere antes compreender saber como é feito para tentar refazê-lo.
Depressa se apercebe que aquela amostra de computador é limitada para desenvolver programas.
Com máquinas mais evoluídas, e com programas como o Basic, dá os primeiros passos.
O gosto acompanha-o na sua juventude. Enquanto estudante colabora com empresas. Não na área da programação, mas na de assistência técnica. Ajuda-o a compreender como funcionam as máquinas.
A programação surge mais tarde, quando os PC passam do sistema arcaico MS-DOS para o Windows da Microsoft. E as tarefas, que continuam trabalhosas, passam a ser mais simplificadas.

O “Bug”

Começa a fazer pequenos programas. Programas úteis para a gestão diária das empresas onde trabalha. Permitem, por exemplo, registar o histórico do aparelho que chega à loja, para que, em situações futuras, possam conhecê-lo.
A sua curiosidade leva-o a questionar, na escola, muito antes de se falar no “bug do ano 2000”, sobre a questão dos dois dígitos. As respostas não o satisfazem. Demonstram desconhecimento do problema que viria a surgir na passagem do ano 1999 para 2000.
Ainda nos tempos de estudante, com o pai ligado ao futebol, começa a treinar com o progenitor. Com 16 anos, já treina uma equipa de futebol, o 1.º de Maio, na categoria de iniciados.
Uma das dificuldades que sente é fazer a gestão do plantel. Saber as presenças, os tempos de treino, o trabalho táctico e físico. E por aí adiante. Com lições básicas de treinadores como Nelson Caldeira, o prof. Palmeiro, Lino Gonçalves, Luís Teixeira, entre outros, começa a fazer uma pequena aplicação na qual passa a ter um controlo total da equipa. Um controlo que permite saber, em qualquer altura, a situação real da equipa assim como a performance de qualquer jogador, como apurar quantas vezes esteve em campo e em que sistemas tácticos jogou.
E é precisamente a ligação ao futebol que o leva a colaborar no Jornal da Madeira. Há um jogador no clube, Ricardo Barcelos, que o convida a fazer coberturas de jogos.
De início sente dificuldade em ver o jogo e conseguir escrever o que se passa em campo. Isso leva-o a perder alguns lances.

Gerir o futebol

Vai daí, decidir fazer um novo programa que o auxilie. Desenha um programa, onde tem um campo de futebol. Lá estão uns bonecos a representar os jogadores, com os números das camisolas.
Integra aspectos importantes como cantos, faltas, livres directos, livres indirectos, foras-de-jogo, e por aí adiante. Quando surge determinada situação, coloca o número da camisola. E a equipa.
Resultado, quando termina o jogo, ou mesmo em qualquer fase do encontro, tem uma leitura real do que se passa em campo. Pouco ou nada tem para escrever. A não ser mencionar o que o programa descreve e colocar com linguagem própria para ser lido no jornal.
Duarte Saldanha passa por diversas empresas. Na Madeira e no continente. Por cá, depara-se com algumas barreiras para desenvolver o que a sua cabeça não pára de magicar. Por mais ideias que mostre, as pessoas não se mostram preparadas para dar os passos necessário.

Saída para o continente

É então que decide sair da Região. Apresenta alguns dos seus trabalhos. Abrem-lhe, de pronto, a porta da empresa, uma “software house”, a ATAC - Análise de Tecnologias de Sistemas Informáticos, com sede na Figueira da Foz. Encontra o ambiente que sempre procurou na Madeira.
A partir daí está sempre ligado ao desenvolvimento de aplicações para diversos fins como escritórios de advocacia, cartões de crédito da Unicre, e outras para empresas locais.
Surge o convite para ir para a fase de estudos e projectos no Porto, para o apoio à programação. Eles próprios têm um departamento de desenvolvimento, e também na área técnica. Contudo, acaba por fugir sempre para a sua área de eleição: a programação.
É desenvolvida uma série de programas, alguns deles para a gestão da própria empresa, em colaboração com o seu colega programador, Abílio Magalhães.
No hospital do Porto
A determinada altura, recebe um convite para o Hospital de São João, no Porto. Aceita o desafio. Trabalha no desenvolvimento de uma aplicação de gestão da unidade hospitalar. Desde as urgências às demais secções. Ainda hoje os programas funcionam no hospital do Porto.
Duarte Saldanha trabalha junto às Urgências. Por vezes, depara-se com realidades dramáticas naquela área.
As saudades da Madeira começam a pesar. Considera difícil tomar a opção. Nutre um especial carinho pelos dirigentes da unidade que, um mês depois de lá estar, já o querem colocar no quadro.
Coloca mil e uma desculpas no sentido de justificar uma saída. Para algumas, são apontadas soluções. Mas a decisão está tomada.

Regresso à Madeira

Depois de um reconhecimento do seu valor e grande potencial como programador pelo continente vem para a Madeira. De mãos a abanar.
O programador encontra trabalho como secretário numa empresa.
Depressa começa a entreter-se com a programação nas horas vagas na empresa. Um entretenimento que é notado pelos dirigentes da empresa. Logo, logo pedem que, na medida em que já está a desenvolver pequenas aplicações, têm interesse em resolver alguns problemas de clientes.
Começa a fazer secretariado. E programação, oficialmente. Desenvolve uma série de programas para a empresa, desde a gestão comercial à gestão de recursos humanos.
A dado momento, alguns colegas querem sair. Para formar uma outra. Convidam Duarte Saldanha para a integrar. O projecto assenta num departamento de programação, com a componente de assistência directa.
Aceita o desafio. Juntamente com os colegas, está praticamente seis meses a desenvolver, sem quaisquer proveitos.
Surgem algumas dificuldades em completar determinados projectos, com divergências com determinadas entidades patronais.

Cria empresa própria

É então que surge a ideia de seguir o seu próprio caminho.
Cria a empresa DNAS - Software. Não tem apoio nenhum. Tem sim algumas aplicações feitas junto de empresas. Mas necessita de proceder à fase de análise de mercado e consultoria no sentido de verificar o que o mercado necessita. Uma das carências que encontra, é a gestão comercial. Os empresários dizem que as que existem são difíceis de trabalhar.
Decide então desenvolver um programa de gestão comercial, em colaboração com empresários. Que lhe dão dicas.
Quando dá por si, com diversos módulos desenvolvidos à parte para empresas, chega à conclusão que tem entre mãos um bom programa, se os integrar num só. Assim acontece.
Em Maio deste ano apresenta o programa “GC - Gestão Comercial”. Resultado de oito meses de árduo trabalho.
O programa está na fase de expansão. Muitos outros estão na cabeça de Duarte Saldanha. Que trabalha mais sossegadamente à noite, quando a família descansa e não existem contactos dos clientes. Praticamente não tem fins-de-semana.
No projecto da nova empresa estabelece parcerias com empresas em áreas que considera importantes para ter um desenvolvimento sustentado da empresa.
Duarte Saldanha está sempre atento à evolução. Compra muitos livros e revistas da especialidade. Utiliza a Internet e o correio electrónico com frequência para a troca de informações.
Ao longo da sua carreira, tem oportunidade de colaborar com várias empresas na programação de jogos. Mas considera que são projectos difíceis e caros. Mesmo assim, chega a fazer um jogo do galo, distribuído gratuitamente numa revista da especialidade, na qual constam os segredos da sua elaboração. O jogo tem a particularidade de não ter uma luta entre cruzes e zeros, mas antes entre ovos e canhões; salsichas contra relógios...
No domínio dos hobbys, tem um gosto especial pela filatelia. Mas, desde que arrancou com o seu próprio projecto nunca mais encontrou tempo para os arquivar e identificar. Como não podia deixar de ser, o “Bill Gates” da Madeira já desenvolveu um programa para gerir a colecção de selos.

2003-06-20


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