Dionísio Pestana

O senhor dos hotéis

Dionísio Pestana cresce longe da ilha que abraça de alma e coração. Depois de um estágio na Madeira não mais quer voltar à África do Sul. De um hotel passa para 30 quando o Grupo que cria celebra 30 anos. Um império que constrói juntamente com a sua equipa.

por: Paulo Camacho


Dionísio Pestana estuda no Colégio dos Maristas. Um sistema baseado no regime anglo-saxónico, onde há muita disciplina, métodos de estudo e de trabalho. É uma fase que influencia muito o empresário nos seus primeiros anos na cidade onde nasce: Joanesburgo, na África do Sul.
A escola ensina a gerir o tempo. Compara o seu tempo com o dos filhos. Considera o seu ensino mais equilibrado. Tem menos férias e mais horas de estudo.
Por outro lado, há um factor relevante: um bom equilíbrio entre os estudos e o desporto. Todos os dias tem desporto. Dionísio Pestana pratica râguebi. É um desporto de equipa, com regras que proporcionam o controlo das frustrações e das emoções. Hoje, recorda que esse jogo o marca profundamente. Diz que as pessoas que jogam em equipa estão preparadas para trabalhar em equipa na vida real, o que não acontece com quem opta pelos desportos individuais.

A força da equipa

Dionísio Pestana realça que na vida é preciso trabalhar em equipa. «Não existem grandes gestores e líderes sem trabalho em equipa».
O empresário recorda, além do seu exemplo, o do presidente da Heinz, que, durante algum tempo, é “capitão” da equipa irlandesa de râguebi.
No meio de tudo isto, Dionísio Pestana sublinha ainda o facto de o sistema de ensino na África do Sul o ensinar a conciliar os estudos com a prática de desporto.
Diz que, em tudo isto, a escola o prepara bem.
Mais tarde, quando chega a hora de estudar na universidade, Dionísio Pestana deseja seguir para uma faculdade residencial, longe de casa. Filho único, quer sair de casa para ter outra experiência, o que acaba por acontecer. Vai para a Universidade do Natal, em Pieter Maritzburg, na África do Sul. Aí tem nova experiência. Conhece e convive com estudantes de outras cidades, das zonas rurais e mesmo de outros países. Muda de mundo. E muda a forma de viver. Ali deixa de ter tudo feito e preparado como em casa.
A universidade é grande. É uma “cidade”, com tudo. Considera a vida universitária única.

O valor do dinheiro

Ao longo de todo este tempo está quase à margem dos negócios do pai, que nunca o influencia directamente no caminho a seguir. Contudo, trabalha com o progenitor, aos fins-de-semana, quando acaba a escola. O mesmo se passa nas férias. Toda a poupança é bem-vinda. No fundo, é espelho da cultura na África do Sul. Os filhos trabalham nas férias, não só para amealhar algum dinheiro como para se preparar para a vida profissional. Além disso, aprendem o valor do dinheiro.
Dionísio Pestana licencia-se em Gestão e Administração de Empresas, a pensar na banca, ou mesmo em enveredar pela carreira diplomática.
Assim que acaba o curso, sente necessidade de viajar.

A Madeira

Passa pela Madeira. A ideia é fazer um “master” na Europa e voltar à África do Sul e estagiar um ano no Sheraton, que explora a unidade hoteleira construída pelo pai, ganhar experiência e voltar. Dionísio Pestana começa a trabalhar no hotel. Aos 24 anos, faz um estágio profissional num hotel que o “chama” para o turismo.
Encontra uma Madeira num país acabado de sair da revolução. O que vê não o seduz. A economia muito menos. Mas, como não faz parte do período conturbado, acaba por ver a realidade de outro prisma. Além disso tem a percepção de que, realmente, a Madeira é linda. Muito apreciada pelos turistas.
Com o tempo, conclui que pode contribuir para uma nova Madeira.

Vai ficando

Os tempos não são fáceis. Mas, pouco a pouco, vai ficando. Gosta cada vez mais da ilha que vê nascer o pai, Manuel Pestana.
Quando dá por si, já tem responsabilidades. Tem projectos pessoais e objectivos que o motivam a ficar. Hoje, Dionísio Pestana tem dupla nacionalidade: a portuguesa e a sul-africana.
O regresso à África do Sul é posto completamente de parte. Não quer mais voltar. Está satisfeito na Madeira, que conhece pela primeira vez aos cinco, seis anos, altura em que fica na Ribeira Brava, a terra do pai, durante três a quatro meses. Os tempos são outros. A Ribeira Brava de então fica longe do mundo.
Mais tarde, desafia um amigo e colega da África do Sul para o acompanhar nos negócios. Chama-se Peter Both. É o principal responsável pela área de “timesharing” do Grupo Pestana.

Acreditar

O tempo passa. As oportunidades de negócio crescem. Dionísio Pestana acredita e aposta quando ninguém o faz.
Desde que chega à Madeira assiste à venda de todos os hotéis de cinco estrelas. A excepção é o hoje Pestana Carlton Madeira, que passa a exploração da cadeia Sheraton para a família Pestana, proprietária do edifício. Um desses hotéis passa para o grupo: o hoje denominado Pestana Carlton Park.

Saber gerir altos e baixos

Dionísio Pestana sublinha que os proje
tos de hotelaria são a longo prazo. Sabe que existem negócios mais rentáveis. É tudo uma questão de opção, de gosto e de satisfação na vida.
Diz que é preciso estar preparado para os ciclos bons e para os menos bons. Essa tem sido a sua filosofia e a do grupo.
Por isso mesmo, dorme bem. Embora haja sempre um risco nos investimentos, refere que os calcula no grupo, juntamente com a equipa, Para os minorar e eliminar. Nos investimentos hoteleiros faz sempre um cálculo de sete a dez anos. Nunca menos.
Tem o condão de, ao longo dos anos, se munir de uma equipa de colaboradores competentes. «Sem equipa num negócio destes é impossível. Tem de ser feito com profissionais, com respeito e amizade. Vive-se muito de confiança a 100%. E essa confiança tem de ser representada de cima para baixo».

Os negócios

Hoje, Dionísio Pestana é dono da maior cadeia hoteleira de turismo do país: a Pestana Hotels Group. Tem hotéis em Portugal: Madeira, Porto Santo, Açores, Algarve, Alentejo, Lisboa, Sintra e Porto; 
 na África do Sul: Kruger Park; na Alemanha: Berlim; Argentina: Buenos Aires; no Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba; em Cabo Verde: Ilha de Santiago; Espanha: Madrid e Barcelona; nos Estados Unidos da América: Nova Iorque e Miami; em Moçambique: na capital Maputo e na ilha Bazaruto;   Reino Unido: Londres;  São Tomé e Príncipe: São Tomé; e em Marrocos: Tânger e Casablanca.
Ao longo dos anos diversifica os investimentos. 
O Grupo Pestana, que passou a “holding”, tem negócios, para além da hotelaria, nas áreas dos operadores de viagens (na Grã-Bretanha e em Espanha), nas agências de viagens, no “rent-a-car”, no golfe, na indústria cervejeira e de refrigerantes, com fábricas na Madeira, nos Açores e em Cabo Verde, na televisão por cabo e na produção de energia eólica na Madeira.
Os relevantes serviços prestados à atividade económica e, nomeadamente, ao Turismo motivaram que fosse distinguido com a Medalha de Ouro do Turismo em 1998 e o grau de Comendador da Ordem de Mérito Comercial, em 2000.

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