Carlos Martins


O conquistador de prémios

Carlos Martins tem o condão de saber motivar os seus colaboradores ao ponto de, em conjunto, ofercerem unidades hoteleiras repletas de arte para bem receber. Os prémios que o hotel Monumental Lido tem recebido desde que foi convidado para o dirigir e, mais recentemente, com o Oásis Atlantic, comprovam o que acabamos de escrever já que são entregues mediante a votação favorável dos clientes dos maiores operadores turísticos europeus. Por isso, podemos chamar-lhe o conquistador de prémios.

por: Paulo Camacho


Nasce em Castelo Branco, aquando de uma breve passagem dos pais pela Beira Baixa. Chega à Madeira com um ano.
Aos 16 anos completa o Ensino Complementar.
Vivia-se um período pós-25 de Abril, onde o serviço cívico era obrigatório. Vem o propedêutico. A sua maneira de ser não se pactuava com a espera. Queria ser alguém rapidamente: tem de se sentir útil.
Entende que não pode continuar a esperar a ver quando vai, e para onde, para fazer um curso superior. Nada nem ninguém o motivava. É um período muito complicado.
Em 1975/76 as acções de rua são quase uma constante na Madeira. Entre várias, está presente na ocupação da antiga Emissora Nacional, na Rua dos Netos. A Sé do Funchal é o seu santo refúgio perante o «ataque selvagem» de que são alvo pelas forças revolucionárias da altura.
Está também na ocupação do Seminário, com o «saudoso bispo Francisco Santana — grande Homem, sublinha — a ajudar à causa que Carlos Martins e os seus colegas defendiam: a ampliação do número de estabelecimentos de Ensino na Madeira.

O primeiro contacto

Em 1977 é convidado para dar aulas de Física e Química, na Escola Industrial e Comercial do Funchal, aos 8.º e 9.º anos de escolaridade.
Simultaneamente, começa a efectuar alguns transferes e excursões, com algumas agências de viagens.
É então que o turismo lhe aparece como possível rumo para o futuro.
Trabalha para as agências de viagens Star, Abreu e Panorama. Torna-se um dos guias oficiais do operador escandinavo Tjaereborg na ilha.
Em 1978, candidata-se a um curso da Escola de Hotelaria e Turismo da Madeira, dirigida por Jorge Caldeira. Jorge Caldeira que, em conjunto com alguns madeirenses, com o curso de Glion, na Suíça, organiza o V curso Médio Polivalente de Hotelaria. São 250 candidatos. Carlos Martins tem a sorte de ser um dos 35 escolhidos para o curso onde acabam somente 16.
Ao mesmo tempo, tira um curso de Relações Públicas. Depois diz que tem a honra de entrar para o Sheraton, como assistente de João Carlos Abreu (actual secretário regional do Turismo), por um período de três meses.
Terminado o curso da Escola Hoteleira, estagia no Hotel Nova Avenida, em Contabilidade, Controlo de Comidas & Bebidas e Recepção. No fim do estágio surge a proposta para regressar ao antigo Sheraton (hoje Pestana Madeira Carlton), como chefe de Controlo de F&B, ou abrir o Hotel São João, como responsável pela área de Comidas e Bebidas.
Opta pelo que, aparentemente, dá menos oportunidade : o hotel São João.
Está ciente que o Sheraton, como grande cadeia hoteleira internacional traria uma mão cheia de promoções e distinções. Mas também sabe que seria mais uma peça na máquina e nunca um criativo ou um gestor com autonomia de trabalho.

O hotel São João

Deste modo, a opção recai na segunda hipótese.
Abre o São João em 1980. No ano seguinte já é sub-director do hotel. Recorda que, pelo que se dizia na altura, nunca ninguém em Portugal (e na Europa não se conhecia ninguém) tinha atingido aquela categoria profissional com apenas 21 anos.
Paralelamente, faz parte da equipa de direcção do famoso pólo de animação, que foi o Hotel Miramar (onde hoje está o Pestana Miramar e o restaurante Mira Mar onde decorrem os “Percursos no Miramar”), com a discoteca Barbarela, o pub, o Sanduíche Bar e o Restaurante Típico. Diz que era realmente algo de extraordinário o que acontecia todas as noites no Miramar, onde frisa: nunca nenhum sítio da Madeira, até então, tinha registado tanta gente.
Contudo, entre 1980 e 1982 a acumulação de trabalhos e tarefas deixam marcas. Além do hotel São João, durante o dia, o Miramar, à noite, tinha ainda a missão de "encerrar" o Hotel Nova Avenida.
É convidado pelo director da Escola Hoteleira, para fazer o inventário físico do Nova Avenida. O hotel já tinha encerrado e o projecto era para dar lugar ao novo Hotel Escola da Madeira. Não obstante, lamenta que tal não tenha acontecido.

Turismo e jornalismo

Em 1982, resolve tirar o Curso de Jornalismo, uma iniciativa do Jornal da Madeira e da Secretaria Regional do Trabalho, considerado um sucesso. Escreve vários artigos para o jornal e, mais tarde, é correspondente do Século.
Nesse mesmo ano, Fernando Barata, dono do São João, leva-o, pela primeira vez, para o Algarve. A intenção é fazer o Verão no Hotel Sol & Mar, em Albufeira.
Após regressar à Madeira, e para o São João, dedica-se inteiramente à unidade, onde sublinha conseguir fazer dela a melhor quatro estrelas da região.
É nessa altura que começa a trazer a Madeira artistas que os locais não tinham oportunidade de ver ao vivo. Herman José, Carlos do Carmo, Amália, Simone de Oliveira, Juca Chaves, Doce e Duo Ouro Negro, são alguns dos nomes sonantes da altura que podiam ser apreciados durante o jantar que promovia no restaurante do hotel. Por isso mesmo não esconde o orgulho e diz que foi um sucesso.
Em 1986, surge novo convite de Fernando Barata. Desta vez é para assumir o lugar de director-geral do hotel Sol & Mar, em Albufeira. Aceita.
Tem como “presente” ao chegar ao Algarve, a desclassificação do Sol & Mar de quatro para três estrelas.
A raiva que sente dá-lhe forças. Seis meses depois consegue reclassificá-lo e levar o Sol & Mar a ser o melhor quatro estrelas do Algarve. Transita para outro hotel dois anos depois: o "Auramar". Vai acompanhando, de perto, o desenvolvimento do Grupo Fernando Barata.

Vice do Farense

Em 1991, tira o Curso de Graduação em Direcção Hoteleira em Faro, no I.N.F.T. Nesse ano é nomeado director-geral do grupo. Ficam sob a sua responsabilidade oito hotéis, seis residenciais, um aldeamento turístico e nove restaurantes, espalhados pelo Algarve, Madeira, Alentejo, Lisboa e Guiné-Bissau.
É vice-presidente do Farense durante dois anos, o que lhe permite conhecer por dentro o mundo "fantástico" do futebol.
Neste período, Carlos Martins tem experiências incríveis na Guiné.
Uma vez o grupo é convidado pelo presidente Nino Vieira, para servir a comitiva presidencial, aquando da deslocação do Presidente da República, Mário Soares, à Guiné-Bissau. A restante comitiva é servida pela ESTA (empresa portuguesa que detinha a exploração de alguns hotéis guineenses).

Aventura na Guiné

A comitiva presidencial é composta por 25 pessoas e há um menu escolhido pela Conselheira do Presidente. Carlos Martins está na Guiné com um chefe de cozinha, um chefe de restaurante e a equipa de trabalho existente no restaurante do grupo na Guiné.
Na hora de começar a preparar o jantar no Palácio do Nino Vieira, depara-se com uma situação caricata: tudo o que tinha levado para o jantar havia sido roubado. Uma dor de cabeça.
Mas depressa a sua mente activa encontra a única forma para não ficar mal, nem deixar ficar mal o Presidente Soares. Juntamente com o chefe de cozinha assalta o armazém da ESTA. Servem-se de tudo o que precisam.
E lá conseguem dar o jantar, que acaba por sair na perfeição.
Contudo, no dia seguinte, de manhã, vai ter com o director da ESTA. Explica-lhe o que se passou e pede desculpas. Debaixo do braço vai a lista do que havia sido tirado indevidamente. Paga-lhe o preço que ele acha justo.
Mas a Guiné guardava mais aventuras para Carlos Martins.
Dá-se um episódio que diz não mais esquecer nunca mais, que, sumariamente, o deixa preso numa ilha juntamente com a sua equipa, depois de um novo serviço. Por isso assegura que voltar lá, só "embalsamado".

O regresso

Após vários anos de Algarve, Alentejo e Lisboa, começa a sentir que a liberdade inicial como director hoteleiro, está a ficar condicionada pela maneira de ser muito própria de Fernando Barata. Começa seriamente a pensar em mudar.
Recebe vários convites para diversas unidades hoteleiras no Algarve, no Porto. Um grupo hoteleiro português convida-o para director-geral. Mas nenhuma das propostas o seduz.
Sente que a hora era de regresso à Terra Natal, a Madeira.
Em 1992, após um contacto, vem a uma entrevista. Segue-se um convite de António Nóbrega para director-geral do empreendimento Monumental Lido. Aceita-o.
Hoje, além de director do Monumental Lido, é director do Hotel Oásis Atlantic, no Caniço.
Em 1995 é convidado por Luigi Valle para a Mesa de Hotelaria da ACIF, cargo que ainda ocupa.
Dois anos depois é nomeado assessor técnico da Escola de Hotelaria e Turismo da Madeira pelo Secretária Regional do Turismo. Foi um lugar que, após seis meses, e por uma questão de ética profissional, coloca à disposição aquando da transferência de poderes daquela escola para a Secretaria de Educação.

O sr. Prémios

Carlos Martins tem o condão de ser um ganhador por natureza. Desde que tem as rédeas do Monumental Lido, o hotel não pára de receber prémios pelos melhores operadores turísticos europeus. O mesmo começa a acontecer com o Oásis Atlantic, há pouco tempo sob a sua direcção.
Por tudo isto é eleito Director Hoteleiro do Ano em 1989 e Personalidade Turística do Ano em 1994. Recebe a Medalha de Prata de Mérito Turístico, atribuída pelo Governo Regional da Madeira em 1996.
Em 2000, quando surge um novo governo, é indicado como possível director regional de Turismo. Trata-se de um assunto sobre o qual nunca se pronunciou. Não obstante, entendeu por bem ser a altura para isso.
Diz que, mesmo que tivesse sido convidado e que não houvesse qualquer impedimento do Tribunal de Contas, havia uma situação pessoal que lhe impedia de aceitar o cargo.
Por ter um enorme respeito e admiração por João Carlos Abreu e pelo presidente do Governo, Alberto João Jardim nunca poderia aceitar pô-los em causa, se, porventura, fosse nomeado director regional, com um irmão, meses depois, a ser notícia de primeira página e de abertura de telejornais nacionais por julgamento cível de práticas de crime de abuso de confiança, aquando da sua passagem pela Associação Abraço. «Estaria a prejudicar a imagem de um Governo que me tinha depositado confiança. Nesse sentido nunca aceitaria tal cargo.» Assim, deixa um ponto final numa situação que só pelo facto de ter sido noticiada, diz ter-lhe enchido de orgulho.
Carlos Martins lê diariamente o Jornal da Madeira e Diário de Notícias e um jornal desportivo: A Bola ou o Record. Semanalmente não lhe escapa o Expresso e revistas como a Focus. Além disso, utiliza a Internet diariamente para se actualizar.

No domínio dos poucos tempos livres que tem, passa-os na totalidade com a mulher, que conheceu há 20 anos, e os dois filhos. Um tem 12 anos e outro, 10. Ambos nasceram no Algarve mas são como o pai, madeirenses assumidos. O casal de cães Huskycs Sibenianos também merece a sua atenção diária, à noite.
Não esconde que estabilidade familiar durante 20 anos são o segredo do seu ser e do seu estar. À mulher considera que deve muito do que é. E aos filhos realça ficará a dever todo o tempo que pretendia dar. Mas «dirigir dois hotéis com um total de 900 camas, não é fácil, sobretudo quando sabemos que depende em muito do nosso trabalho, o bem-estar comum de tanta gente.» Entende que há que abdicar de muitas coisas e dedicar-se de alma e coração ao seu projecto. É por isso que trabalha cerca de 12 a 13 horas diárias, durante seis dias por semana. Isto para além de ter uma administração que lhe deixa contar com duas equipas, com grandes profissionais, «o que só facilitam as suas tarefas.»

O desporto

Carlos Martins é um apaixonado dos desportos motorizados. Não gosta de desportos monótonos. Daí que o squash seja uma das suas modalidades favoritas.
Ultimamente dedica-se, quando pode, à motonáutica. Adquiriu uma mota de água e, juntamente com os seus dois filhos, faz umas brincadeiras.
Considera-se um espectador atento do futebol. É maritimista de uma forma natural e benfiquista por costela familiar.
Adora carros antigos. Depois de ter reconstruído um MG13, de 1971, vende-o. Adquire o seu sonho de criança: um Porsche, com 17 anos, que já começou a reconstruir. Trata-se de um sonho que vem da famosa “bomba verde”, tripulada por Américo Nunes, nos anos 60, na Volta À Ilha da Madeira e do Américo Silva, também com Porsche. 

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